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Falácia: significado e exemplos

- 4 min leitura

Uma falácia é um raciocínio que parece correto, mas não é. Quando analisamos um argumento, podemos classificá-lo de diferentes maneiras. Primeiro, existem os argumentos fortes, que demonstram claramente que a conclusão é verdadeira. Em seguida, temos os argumentos mais fracos, que não provam totalmente a conclusão, mas mostram que ela é provável. Por último, existem os argumentos que contêm erros graves e, por isso, não ajudam a provar a conclusão. Esses argumentos, quando parecem corretos, são o que chamamos de falácias.

O termo “falácia” tem sua origem no latim “fallacia”, derivado do verbo “fallere”, que significa “enganar”. No entanto, a origem do conceito é grega. Foi Aristóteles (384 – 322 a.C.) quem primeiro analisou e catalogou esse tipo de argumento, em livro chamado Refutações Sofísticas. Nessa obra, ele identificou 13 falácias. No entanto, isso deu origem a uma longa tradição e hoje reconhecemos centenas de falácias.

Considerando o que vimos até agora, para que algo seja uma falácia são necessárias três condições:

  1. Deve ser um argumento;
  2. Deve aparentar ser válido;
  3. Mas deve ser inválido.

Para ilustrar esses pontos, consideremos o seguinte argumento extraído do conto “Amor é uma Falácia” de Max Shulman:

“Estudantes deveriam poder consultar suas anotações durante uma prova, pois engenheiros, médicos e advogados podem consultar as suas quando estão fazendo seu trabalho.”

Analisemos ponto por ponto. Primeiro, certamente é um argumento, já que a conclusão de que “estudantes deveriam poder consultar suas anotações durante uma prova” está sendo justificada a partir de uma comparação com o trabalho de engenheiros, médicos e advogados.

A aparência de validade também está presente, pois à primeira vista, a comparação parece razoável: se profissionais experientes têm a liberdade de consultar materiais em suas atividades, por que estudantes não poderiam fazer o mesmo em um contexto avaliativo? Se a escola é uma preparação para a vida profissional, qual o sentido de tornar as coisas nesse momento mais difíceis do que são no mundo do trabalho?

Mas apesar dessa aparência superficial, esse argumento não é válido, pois a comparação entre profissionais e estudantes ignora uma diferença importante. Não é permitido que estudantes usem anotações porque devem demonstrar seus conhecimentos na prova. Profissionais formados em situação de trabalho não precisam provar que aprenderam para receber um diploma. Essa diferença invalida a comparação usada no argumento. Sendo assim, o argumento é uma falácia.

Falácia não significa mentira

Muitos estudantes, quando são apresentados a esse conceito, passam a ver falácias em todo lugar. Qualquer frase, qualquer argumento do qual discordam, passa a ser considerado uma falácia.

Um equívoco comum é equiparar falácias com mentiras ou falsidades. Embora ambas possam ser empregadas para enganar, é necessário entender a distinção entre elas. Uma mentira é tipicamente uma afirmação falsa feita com a intenção de enganar. Por exemplo, dizer que “no Brasil nunca houve escravidão” ou afirmar que “os italianos medem três metros de altura” são mentiras claras, pois apresentam informações falsas como verdadeiras.

Ao contrário, uma falácia não necessariamente envolve falsidades nos seus argumentos, mas sim uma falha na lógica ao conectar as premissas à conclusão, fazendo com que o argumento pareça válido quando não é. Por exemplo, afirmar que “todos os meus amigos irão votar no candidato Aristóteles, portanto ele vai ganhar a eleição” não tem necessariamente falsidades, mas ainda assim é uma falácia. Embora possa ser verdade que meus amigos votarão no Aristóteles, apenas isso não é suficiente para eu concluir que ele irá ganhar a eleição.

Exemplos comuns de falácias

Como já vimos, desde que o Aristóteles identificou as primeiras falácias, a lista não parou de crescer. Hoje é possível encontrar livros que listam mais de 100 delas. No entanto, não é necessário saber tudo isso para não se deixar iludir por argumentos falaciosos. Conhecer algumas já ajuda bastante. Abaixo você encontra alguns exemplos comuns:

  1. Apelo à natureza. O apelo à natureza é um tipo de falácia que ocorre quando argumentamos que algo é bom porque é natural ou ruim porque não é natural. Exemplo: veneno de cobra é algo natural, portanto deve fazer bem para a saúde.
  2. Apelo ao povo. Ocorre quando tentamos convencer alguém com base na opinião da maioria ou de um grande número de pessoas. Exemplo: a maioria das pessoas considera esse texto bem escrito, portanto ele deve de fato estar bem escrito.
  3. Apelo à ignorância. O apelo à ignorância ocorre quando o desconhecimento de um fato é usado para justificar uma afirmação. Exemplo: ninguém provou até hoje que Deus existe, portanto ele não existe.
  4. Apelo à piedade. Apelo à piedade ou ad misericordiam ocorre quando apelamos à compaixão de uma pessoa para convencê-la de um ponto de vista. Exemplo: eu deveria receber uma ótima nota na prova, porque do contrário serei colocado de castigo.
  5. Apelo às consequências. Descrição Apelo às consequências é uma falácia cometida quando se afirma que uma proposição é verdadeira porque isso gera consequências benéficas ou que é falsa porque gera consequências prejudiciais. Exemplo: se Deus não existe a vida não há razão para agir corretamente, portanto ele deve existir.
  6. Apelo à força. O apelo à força é uma falácia que ocorre quando algum tipo de ameaça é feita ao interlocutor para que aceite determinada conclusão como verdadeira. Exemplo: limpe a casa, do contrário vai ficar sem almoço!
  7. Falsa Analogia. Falsa analogia ocorre quando é feita uma analogia entre dois objetos, porém esses objetos possuem diferenças relevantes. Lembra do argumento comparando estudantes e profissionais que usamos como exemplo no início do texto? Aquela falácia é conhecida como falsa analogia.

Post hoc. Esse é o nome de uma falácia que ocorre quando concluímos existir uma relação causal entre dois eventos pelo fato de geralmente ou sempre ocorrerem em sequência. Exemplo: observei vários dias que sempre que o galo canta, o sol nasce. Portanto, o sol nasce por causa do canto do galo.